O trio que perdeu 81 quilos
Veja de que forma eles emagreceram com saúde
Mudar a postura perante a comida e adotar uma rotina de queima calórica adequada não são atitudes para serem tomadas da noite para o dia. O grau de dificuldade aumenta quando se tenta incorporar a rotina saudável ao ponto de não representar sacrifício algum. Essa é a meta de todos aqueles que perseguem qualidade de vida. Poucos são os exitosos.
Para entender o que motiva esse “enxugar de gordura”, convidamos para contar suas artimanhas três pessoas que tiveram seus objetivos cumpridos e seguem de bem com o corpo. Cada um deles apostou em um guia, entre eles uma endocrinologista, uma nutricionista e um personal trainer.
A chave de toda essa conversa está na motivação. Os resultados mais duradouros são os iniciados por uma mudança interna: — Emagrecer para atingir um padrão de beleza ou porque o médico mandou, geralmente, não dá certo. Contínuas são as tentativas que ocorrem pelo desejo de saúde e de qualidade de vida. É importante fazer com que a pessoa se ouça dizendo que precisa perder peso. Para isso, deve ser provocada.
O bombardeio de ofertas gastronômicas e convites para jantares tornam a luta contra a balança, a longo prazo, mais cruel do que contra os entorpecentes. Para se manter limpo, no entanto, é preciso adotar algumas estratégias. Nada de dietas miraculosas. A reeducação alimentar e a atividade física regular são os já manjados segredos do sucesso.
Um estudo da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e finalizado no ano passado constatou que aqueles que aliam a dieta à atividade física tem resultados melhores com relação ao hormônio grelina, diretamente ligado à sensação de fome. Foram analisados 23 pacientes com obesidade de grau 1. Divididos em dois grupos, foi constatado que aqueles que fizeram apenas regime tiveram um aumento de 18,21% do hormônio que regula a fome, enquanto que os que praticaram exercícios aeróbicos aliados à dieta reduziram em 38% o hormônio do apetite.
— Para obter resultados sólidos, é necessária a união de dieta e exercício físico. Tudo indica que quem apresenta a redução do hormônio da fome garante maior sucesso no emagrecimento — destaca André Luiz Lopes, autor da pesquisa e Mestre em Ciências do Movimento Humano da UFRGS.
A cardiologista e médica do esporte Cátia Boeira Severo explica que depois de oito semanas do repertório seguido à risca já é possível notar alguma diferença tanto no peso, quanto na resistência cardiovascular.
— As pessoas resistem muito em sair da zona de conforto. Depois que seguem um ritmo, fica muito mais fácil. Acabam se viciando na sensação boa que a atividade física promove, causada pela liberação de endorfina — salienta Cátia.
Pessoas com menos de 40 anos e saudáveis devem procurar o médico para fazer os exames de rotina e medir alguns índices, como colesterol e glicemia. Carisi Anne Polanczyk, diretora científica da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio Grande do Sul (Socergs), tranquiliza aqueles que temem uma guinada na vida sedentária:
— Não há dúvidas que corre-se mais risco ficando no sofá do que caminhando.
A futura magra
A arquiteta Adriane Enk Buneder, 41 anos, nunca foi obcecada por ver a marca do ponteiro da balança toda hora. Como era gordinha desde bebê, havia se habituado à forma física. Começou a flertar com a malhação em 1997, mas foi há cerca de quatro anos que se entregou de verdade. Preferia notar o resultado nas roupas que ficavam largas, nas formas que seu corpo tomava e na autoestima elevada depois de um longo período de treinos. Com a meta de ser uma "futura magra”, ela contou com o personal trainer Eduardo Grumann para uma mudança de postura, mas admite que, sem uma reeducação alimentar, nada seria possível.
O programa:
> Musculação de três a quatro vezes por semana e caminhadas de até 40 minutos depois das séries.
> Atenção à técnica de movimento e prioridade para o treino, que trabalha muito a força, mais intenso possível.
> Alimentação regrada.
O resultado: Abandonou os 80 quilos iniciais e agora não passa dos 60 quilos.
Como ela chegou lá: “Comecei a treinar e gostar de musculação há uns 13 anos. Inicialmente era um esforço me exercitar. Tinha vergonha de ir à academia. Hoje virou um hábito. Eu estava com sobrepeso, mas aquela era a imagem que estava habituada a ver desde pequena. Duas gestações, a segunda de gêmeos, fez com que meu corpo sofresse algumas variações. Meu peso que oscilava entre 60 e 70 quilos, chegou a quase 100. Determinada, dizia: “sou uma futura magra”. Só consegui emagrecer com ajuda de um médico e do meu personal, que sempre me incentivou a ter disciplina”.
Encarando a balança
Fabiano Sampaio Gonçalves, 27 anos, passou a infância e a adolescência carregado pelos pais a consultórios de médicos e de nutricionistas. Junta uma lista imensa de tentativas fracassadas para perder peso. Em março de 2008, ele mesmo tomou a iniciativa e chegou ao consultório médico disposto a ganhar autoestima. Fabiano nem sabe quantos quilos tinha quando fez a primeira consulta com a endocrinologista, Patrícia Santafé: a balança da médica marcava no máximo 150 quilos. Mesmo tão pesado, Fabiano rejeitou a opção de fazer cirurgia de redução do estômago. Três anos depois, está 50 quilos mais leve.
Como ele chegou lá:
“Não gosto de cirurgias, nem cogitei essa hipótese. Tinha consciência de que não havia tido sucesso nas outras tentativas por falta de vontade suficiente. Naquela vez foi diferente. Sabia que esse emagrecimento ia ser bom para a minha autoestima, e foi. A balança não me suportava. Somente na terceira consulta é que pude saber qual era o meu peso e o quanto tinha emagrecido. Seis meses depois do início do tratamento, estava com 103 quilos. O melhor de tudo foi ver a alegria dos meus pais. Tenho consciência de que tive uma conquista diferenciada. Reeducar minha alimentação ajudou muito. Como com frequência e qualidade. Me policio muito mais com a hora do que com a quantidade de alimento”.
O programa:
> Remédio antiobesidade em baixa dosagem para ajudar a aplacar a ansiedade.
> Os seis pães brancos no café da manhã foram substituídos por apenas um, acompanhado de uma xícara de café.
> Comer com frequência: saladas passaram a complementar as refeições, intercaladas com lanches a cada três horas.
> Natação três vezes por semana e caminhadas sempre que possível.
O resultado: No primeiro ano, foram eliminados 70 quilos. Parou com o remédio e recuperou 20 quilos.
Aprendendo a mastigar
Em setembro de 1990, depois de ver o pai obeso enfartar aos 59 anos de idade, Luís Cirlon da Silva decidiu que era a hora de mudar o rumo que a própria vida estava tomando. Sedentário, sufocado em seu corpo e com o peso acima do limite, o empresário buscou a ajuda de Yole Luz Brasil, especialista em nutrição clínica. Hoje, aos 62 anos, Cirlon já nem faz mais força para se manter em forma. Deixou de comer apenas para satisfazer o paladar, aprendeu a mastigar e a escolher melhor o que coloca no prato. Agora, não consegue se imaginar de outro jeito.
O programa:
> Aprender a mastigar: a saciedade deve ocorrer na boca, não no estômago.
> Água: essencial para tudo, desde pele até cabelo e intestinos.
> Bom senso: nada de radicalismos.
O resultado: Iniciou com 90 quilos em 1990 e seis meses depois, pesava 71 quilos. Hoje, não passa dos 74kg
Como ele chegou lá: “Antes de conhecer minha nutricionista, comia errado, apenas duas vezes por dia, porque não queria engordar. Mas acabava ingerindo alimentos altamente calóricos e gordurosos. Aos finais de semana, o estrago era geral. Vivia com uma sensação de frustração muito grande. Nenhuma roupa caia bem. Meu manequim passou do 48 para o 42. Foi uma grande conquista”.